domingo, 22 de fevereiro de 2015

Para um leque

Se eu lhe fosse depor, minha senhora,
Por entre estas mentiras cor de aurora
Uma verdade sã e proveitosa,
Chamava-lhe vaidosa!
E, faça-me favor,
Não encrespe esse olhar acostumado
Ao falso galanteio delicado
E a finezas de amor.

II

Eu sei perfeitamente que Vocência
Possui a verve, a fina inteligência.
Que eu… não admiro, e toda a gente adora,
Duma mulher doutora.
Portanto vai então
Achar-me pouco amável no que digo,
Mas, por fim, há-de concordar comigo
E dar-me até razão.

III

Senão Vocência que me diga, franca,
Para que serve numa folha branca:
“A senhora é rainha da beleza;
Em graça e gentileza,
Um cisne a flutuar
Num lago não a iguala. Encanta, prende,
Como grades de ferro, a luz que esplende
Do seu profundo olhar”?



IV

Enfim, essas tolices que descubro
No leque, e que seu lindo lábio rubro
Agradece aos autores discretamente
Dizendo-lhes, ridente:
– Que bonitos que estão
Os versos!… Eu bem sei que não mereço
O que neles me diz, pois me conheço.
Mas… toque. E estende a mão

V

Suponha agora (é só por um momento)
Que esse escuro cabelo esparso ao vento,
Pelo vento é levado; em outros termos,
Para nos entendermos,
Suponha que ele cai,
Que o pouco que ficou se torna neve
E que a pele gentil do rosto breve
Encarquilhando vai!

(Caetano da Costa Alegre - poeta são-tomense)

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