domingo, 29 de março de 2015

sábado, 28 de março de 2015

W.C.

Os batons jogados na pia,
Seios rígidos,
Corpos em erupção...
Descobrimentos...
Um amor juvenil
De duas ovelhas
Nas manhãs de catequese.

(Lidiane Ferreira)

Meia-noite

Pés quentes em chãos gelados
Passos lentos e trêmulos...
Janelas puladas...
No santuário
Um aroma absinto...
Festa dual
O pecado expelido pelo sexo
Enquanto Deus dormia.

(Lidiane Ferreira)

domingo, 22 de março de 2015

Eu não quero troco

Olhaêê, a poesia Preta freguêsa! (2 x)

Venham, venham! Chegue mais!
Tenho letras misturado a sílabas,
Sílabas misturada a versos,
Versos de todos os jeitos e formas,
E de versos.
Ah! E de versos eu entendo bem.

A nossa moeda de troca, não é dinheiro,
Não é cartão, não é cheque,
É o teu sorriso e um pouco do seu tempo.
Pode ser?

Olhaêê, a poesia Preta freguêsa! (2 x)

chegando hein? chegando!
subindo a ladeira com o meu cesto de falas lindas,
Cheios de estrofes,pontos gramaticais,
Interrogações, pontos de seguimentos,
Travessões, dois pontos:
Exclamações!

A nossa moeda de troca, não é dinheiro,
Não é cartão, não é cheque,
É o teu sorriso e um pouco do seu tempo.
Pode ser?

Olhaêê, a poesia Preta freguêsa! (2 x)

Ô cumadi! Vai pegar outro exemplar comigo hoje?
- Sim, sim!
- Tem aquela poetisa Preta, a Gonesa Gonçalves?
- Tem aquele poeta Preto, o Raphael Mukumbi Lisboa?
Tenho sim cumadi, tenho sim. Tenho esses e outros mais de 300 que nos representam e nos representaram por todos esses anos!

Não há mercado ou venda quando se fala de poesia Preta,
Porque se marginais somos, o lucro é a consequência,
Somos o boicote a esse tal jogo de interesse elitizado,
Somos a derrubada dos medalhões entregues a esses bostéticos acadêmicos,
Somos a luta pelo verdadeiro direito,
Somos a fala dos que promovem uma Nova História,
Somos a dor dos que já se foram.
Somos marginais...
Somos marginais andantes, semeando a resistência.

Fúria justificada

Quando a intensa chuva e a enchente acabar, conte os pretos mortos,
Quando o camburão melado de sangue, na favela passar,conte os pretos mortos,
Quando o incêndio criminoso na comunidade terminar, conte os pretos mortos,
Quando o poeta preto do palco descer, batam palmas, e continue contando os pretos mortos.

Poesia, instrumento único que imortaliza homem preto,
Em linhas, rabisca horizontalmente ruídos de outrem,
Se o Ser belo, é falar das belas como sempre foi dito...
Prestem bem atenção:
Há alguém sendo exterminado, neste exato instante.

Preto vivo, homem sério, folha em mãos, recitou,
Sobre ordens de palavras fortes, ver em morte, ressurreição,
Como um ciclo hereditário, chama filho a posto mítico...
Novamente, prestem bem atenção:
Eu sou a voz, um ser gritante, transpirando exatidão.

Quando tentarem negar a nossa contribuição científica, à força, lutem! E celebrem aos pretos nossos,
Quando adentrarmos de vez, às Academias de letras com a nossa história.Festejem, gritem! E reverenciem aos pretos nossos,
Quando elegermos alguém que represente os nossos anseios antigos. Vibrem! E deem boas vindas aos pretos nossos,
Quando os sinais dos Deuses indicarem, a nossa vitória merecida. Se abracem! Se abracem!
Mas lembrem dos pretos mortos.

(Marconi Machado Menezes - O Diferencial da Favela: Poesias Quebradas de Quebradas)

Ombro direito

Minha preta! Umbilical mulher, umbilical guerreira, umbilical poetisa.

Cacau-cheiro, pedaços de lindo pescoço,
Carinhos feitos à palma da mão,
Lábios carnudos que permite alvoroços,
Beleza negra, beijo roubado, gelar coração.

Sorriso Ilê, ladeira subindo,
Boneca dançante promete gingar,
Seus Dreads confundem com o rosto bonito,
E a música perfeita, Djavan-namorar.

Leciona mulheres a ter autoestima,
Permitindo em cabelos, desenhos montar,
Criada em berço, antirracista,
Capricha discursos, para além do seu lar.

É doce na voz, é doce no beijo,
Temperando elementos, nem ouso pensar,
Sussurra no ouvido, contando desejos,
Passeio erótico, do sonho acordar.

Preto: vida de muitos

Estado vermelho,
Sobre a força do meu estado.
E digo-lhes: 
- Eu não ficarei estático!
Em alerta estive, em alerta estou, em alerta estado.
De olhos bem esbugalhados!
Com tanta balbúrdia e escrotidão,na tela de TV e sem nada a temer, pergunto:
- Quem paga a conta dos corruptos em estada no meu Estado?
O Estado que corre sangue por todos os becos ou o vermelho da facção-Capital do meu Estado?
Eu não sou vermelho, sou a cor que compõe verdadeiramente mais de 80% de homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras, produtores desse Estado.
Inerte nunca! 
Mesmo quando os fardados insistirem tentar mandar todos nós para um buraco cavado.
Bala polícia, bala milícia, bala baleiro, bala de chumbo, bala de plástico.
Bala!
Corre um liquido,
Cor de vermelho,
Corpo na vala,
Corpo virado.
Nome artístico,
Dócil-bom homem,
Gente família,
E lá meio palmo.
É alguém,
É preto.

(Marconi Machado Menezes)

terça-feira, 17 de março de 2015

Sarau Enegrescência - 28/03/2015

Vamos celebrar as Literaturas Negra e Africanas!

Convidamos todxs para o Sarau Enegrescência!

Nesta edição, temos um bate-papo com Sandra Muñoz (Coordenadora da Casa Cristal Lilás da Bahia, que promove a prevenção e o enfrentamento à violência contra a população LGBTT)

Traga a sua arte!

Data: 28 de março de 2015
Local: Casa de Angola Na Bahia (em frente ao Corpo de Bombeiros da Barroquinha)
Horário: 15h

PARTICIPE DO EVENTO NO FACEBOOK: https://www.facebook.com/events/411635915680430/


Bacante

O gozo é a política da vida
Continuada por outros meios

(Henrique Freitas - Ogum's Toques Negros: Coletânea Poética, 2014, p. 110)

Tempo

Nem em todas as eras,
em todas as iras,
Nem na cabaça, na cabeça
Caberás.

Árvore-ori,
Pobre do homem
Entregue a ti.

(Henrique Freitas - Ogum's Toques Negros: Coletânea Poética, 2014, p. 109)

Agosto

De você e de mim, este outro,
entre tanto e tão pouco
vou ficando louco,
entretanto, disposto,
quem sabe em agosto,
sem sufoco,
meu corpo
é sua casa - reboco.

O pré foi suposto
se pôs e, pronto, aposto
aposto em mim, manhoso,
acorde tosco,
prum sujeito eu com posto
lábios no rosto
é desejo exposto
agô, a gosto.

(Henrique Freitas - Ogum's Toques Negros: Coletânea Poética, 2014, p. 108

domingo, 1 de março de 2015

Negro

(Tradução de Leo Gonçalves)

Sou Negro:
Negro como a noite é negra,
Negro como as profundezas da minha África.

Fui escravo:
Cesar me disse para manter os degraus da sua porta limpos.
Eu engraxei as botas de Washington.

Fui operário:
Sob minhas mãos ergueram-se as pirâmides.
Eu fiz a argamassa do Woolworth Building.

Fui cantor:
Durante todo o caminho da África até a Georgia
Carreguei minhas canções de dor.
Criei o ragtime.

Fui vítima:
Os belgas cortaram minhas mãos no Congo
Estão me linchando agora no Mississipi.

Sou Negro
Negro como a noite é negra
Negro como as profundezas da minha África.

(Langston Hughes - poeta estadunidense, um dos expoentes do movimento cultural afro-americano chamado Renascença do Harlem)


Padê de Exu Libertador

Ó Exu
ao bruxoleio das velas
vejo-te comer a própria mãe
vertendo o sangue negro
que a teu sangue branco
enegrece
ao sangue vermelho
aquece
nas veias humanas
no corrimento menstrual
à encruzilhada dos
teus três sangues
deposito este ebó
preparado para ti

Tu me ofereces?
não recuso provar do teu mel
cheirando meia-noite de
marafo forte
sangue branco espumante
das delgadas palmeiras
bebo em teu alguidar de prata
onde ainda frescos bóiam
o sêmen a saliva a seiva
sobre o negro sangue que circula
no âmago do ferro
e explode em ilu azul

Ó Exu-Yangui
príncipe do universo e
último a nascer
receba estas aves e
os bichos de patas que
trouxe para satisfazer
tua voracidade ritual
fume destes charutos
vindos da africana Bahia
esta flauta de Pixinguinha
é para que possas chorar
chorinhos aos nossos ancestrais
espero que estas oferendas
agradem teu coração e
alegrem teu paladar
um coração alegre é
um estômago satisfeito e
no contentamento de ambos
está a melhor predisposição
para o cumprimento das
leis da retribuição
asseguradoras da
harmonia cósmica