quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Nós voláteis

Billie Holliday e aquela solidão arretada,
numa noite de sábado.
O feriadão levara as pessoas.
Para disfarçar o tempo, queimou um comercial
e ligou a tevê sem o som.
Para ocupar suas idéias,
uma variação de literatura esotérica.
Nesta digressão filosófica, o teto começou a vibrar.
Atentou para o ruído e
percebeu que a libido no apartamento de cima começara.
Estavam literalmente fodendo na sua cabeça.
Aqueles rangidos e gemidos ritmados
lhe despertavam desejos adormecidos até então.
Seu corpo retesou-se e arqueou-se em ondas, enquanto a
dupla alienígena
completava a encenação.
Lá fora, a vida fervilhava, e ela
solitariamente pegava uma carona
nesse trem de fantasias.

(Lia Vieira - Cadernos Negros, os melhores poemas)

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