domingo, 22 de março de 2015

Fúria justificada

Quando a intensa chuva e a enchente acabar, conte os pretos mortos,
Quando o camburão melado de sangue, na favela passar,conte os pretos mortos,
Quando o incêndio criminoso na comunidade terminar, conte os pretos mortos,
Quando o poeta preto do palco descer, batam palmas, e continue contando os pretos mortos.

Poesia, instrumento único que imortaliza homem preto,
Em linhas, rabisca horizontalmente ruídos de outrem,
Se o Ser belo, é falar das belas como sempre foi dito...
Prestem bem atenção:
Há alguém sendo exterminado, neste exato instante.

Preto vivo, homem sério, folha em mãos, recitou,
Sobre ordens de palavras fortes, ver em morte, ressurreição,
Como um ciclo hereditário, chama filho a posto mítico...
Novamente, prestem bem atenção:
Eu sou a voz, um ser gritante, transpirando exatidão.

Quando tentarem negar a nossa contribuição científica, à força, lutem! E celebrem aos pretos nossos,
Quando adentrarmos de vez, às Academias de letras com a nossa história.Festejem, gritem! E reverenciem aos pretos nossos,
Quando elegermos alguém que represente os nossos anseios antigos. Vibrem! E deem boas vindas aos pretos nossos,
Quando os sinais dos Deuses indicarem, a nossa vitória merecida. Se abracem! Se abracem!
Mas lembrem dos pretos mortos.

(Marconi Machado Menezes - O Diferencial da Favela: Poesias Quebradas de Quebradas)

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