quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Insônias

Saudades das Tuas noites
Fogueiras que eu não vi
Palmares, Estado Negro...
(vivo pensando em ti)

Como não estar
Na podridão do Mangue
Nas ratazanas da zona
Na multidão de bucetas infectas
Como não estar no barulho da britadeira
Na comida azeda, na marmita fria
Como não estar na fome do meu filho
Já nascido com jeito de morte
Como não estar no lio das madames
No cheiro da gordura da pia
Nas bostas dos barões boiando na latrina
Como não estar no trem lotado, no barraco caindo
No camburão, na porrada nos dentes
No lodo. Do fundo de cada cela
Como, se tudo isso sou eu?

Quilombos, meus sonhos
Sofro de uma insônia eterna de viver vocês

Vivo da certeza de renascê-los amanhã,
Se um distinto senhor vier me dizer
Para não pensar nessas coisa
Vou Ter de matá-lo, com um certo prazer.

Por menos que conte a história
Não te esqueço meu povo
Se Palmares não vive mais
Faremos Palmares de novo

(José Carlos Limeira - Atabaques, p. 19-23)

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